Carta de Princípios
A Roda é um espaço de circulação de saberes, experiências e diferenças. Nosso objetivo é promover a transmissão da teoria e da técnica psicanalítica sustentados no Tripé +1. Do clássico tripé que compõe a formação de um analista (análise pessoal, estudo teórico e supervisão) acrescentamos a importância dos colegas companheiros que percurso, do coletivo que enriquece e interroga a prática individual. Assim, o + 1 refere-se a uma comunidade de partilha que não anule a existência de singularidades. Na psicanálise contamos um a um, caso a caso, o que faz dela subversiva e múltipla. Desta forma, a proposta da Roda é evidenciar questionamentos e impasses, arejando a Psicanálise por meio de aberturas à multiplicidade de leituras. Afinal, apostamos que é na diferença, nas trocas, em uma psicanálise múltipla que se funda uma clínica potente e transformadora. É preciso explicitar a diferença entre um posicionamento múltiplo e eclético. Esse último leva a posições que misturam epistemologias e campos do conhecimento de forma acrítica. Já o múltiplo no campo psicanalítico implica manter a tensão dentro dele e pressupõe uma sustentação teórica sólida que circunscreve tal saber.
A psicanálise sempre combateu os ecléticos, considerados como adversários. Por outro lado, ela recusou a sua captura em um sistema totalizante e imóvel (caracterizado ref. como Weltanschaung). Há no campo psicanalítico premissas fundamentais, que deixam uma ampla margem para o surgimento de rupturas internas e invenções. Outro ponto fundamental que nos une é pensar a psicanálise de forma ética, comprometida com o nosso tempo, história e política. Não são poucos os obstáculos implícitos nessa proposta da Roda, já que a busca por identidades rígidas e vínculos verticais sempre estão a rondar os agrupamentos humanos. Tal proposta nos exige renunciar a suposta garantia das certezas e nos coloca a difícil tarefa de permanente confronto das formas instituídas. Buscamos assim, a construção de uma comunidade cujos laços se amparam na manutenção da incerteza e dos enigmas, que marcam a experiência psicanalítica em seu momento inaugural, e que devem marcar não somente a formação, mas cada novo processo de análise. Pensamos os projetos que oferecemos como dispositivos de abertura, construídos coletivamente.