Neste grupo de estudos pretendemos oferecer ao público em geral algumas relações possíveis entre a obra de Shakespeare e a Psicanálise. Muitos estudos já foram realizados sobre o tema e nosso intuito é tanto trazer ao público interessado os resultados dessas pesquisas como também favorecer uma reflexão do próprio grupo sobre sua leitura das obras do autor.

É de conhecimento geral que a obra shakespeareana continua sendo fundamental para o entendimento das paixões e desejos dos seres humanos. Na obra de Freud estão presentes várias análises a personagens shakespearianos. Além disso, a obra de Shakespeare se torna particularmente relevante neste século XXI por representar também um importante período de transição da sociedade ocidental. Sua obra, escrita entre os séculos XVI e XVII, assinala a passagem do mundo medieval para o moderno e suas consequências para as relações sociais e, em particular, para as relações dos indivíduos com o outro e consigo mesmo.

Incertezas sobre a continuidade do poder da realeza, do poder religioso do cristianismo e das mudanças crescentes na produção material implicam em alterações profundas na subjetividade dos indivíduos. Shakespeare retrata em suas peças teatrais este mundo em convulsão acelerada e sem previsão de onde este percurso vai chegar no futuro.

O que se tem então é o risco iminente da perda da subjetividade dos indivíduos daquele período – risco da perda do si mesmo, ou seja, deixar de submisso à ordem e à hierarquia fixa que situava cada indivíduo em um grupo social e assim lhe dava um sentido de pertencimento e de existência. A partir dessas condições sociológicas, culturais e subjetivas pretendemos discutir a obra do autor e trazer alguns elementos para o momento atual também de transição, conforme alguns autores.
Como critério de seleção das obras a serem discutidas neste primeiro ano do grupo adotamos os parâmetros de Barbara Heliodora, reconhecida especialista brasileira na obra do bardo. Seguimos, portanto sua divisão da obra em cinco grandes momentos e selecionamos peças teatrais de cada período.

São elas:

• A comédia dos erros (1594)
• Romeu e Julieta (1596)
• Ricardo II (1596)
• Troilo e Créssida (1605)
• Otelo (1604)